Palavrear
Minha mãe me deu ao mundoe, sem ter mais o que me dar,
me ensinou a jogar palavrano vento pra ela voar.
Dizia: “Filho, palavratem que saber como usar.
Aquilo é que nem remédio:cura, mas pode matar.
Cuide de pedir licença,antes de palavrear,
ao dono da fala que équem pode lhe abençoar
e transformar sua línguaem flecha que chispa no ar
se o tempo for de guerrae você for guerrear
ou em pétala de rosase o tempo for de amar.
Palavra é que nem veneno:mata, mas pode curar.
Dedique a ela o respeitoque se deve dedicar
às forças da natureza(o animal, a planta, o ar),
mesmo sabendo que a ditafoi feita pra se gastar,
que acaba uma, vem outrae voa no seu lugar.”
Ainda ontem, lá em casa,me sentei pra conversar
com as minhas duas meninase desatei a lembrar
de casos que a minha mãese esmerava em contarcom luz de lua nos olhosenquanto fazia o jantar.
Não era bem pelo assuntoque eu gostava de escutar
aquela voz que nasceucom o dom de se desdobrar
em vozes de outras erasque voltarão a pulsar
sempre que alguém, no vento,uma palavra jogar.
Gostava era de poderver a voz dela criar
mundos inteiros sem quasenem parar pra respirar
e ganhar corpo e fazerminha cabeça rodar,
como roda ainda hoje,quando, pra me sustentar,
eu jogo palavra no ventoe fico vendo ela voar
(jogo palavra no ventoe fico vendo ela voar)
Ricardo Aleixo
Minha mãe me deu ao mundoe, sem ter mais o que me dar,
me ensinou a jogar palavrano vento pra ela voar.
Dizia: “Filho, palavratem que saber como usar.
Aquilo é que nem remédio:cura, mas pode matar.
Cuide de pedir licença,antes de palavrear,
ao dono da fala que équem pode lhe abençoar
e transformar sua línguaem flecha que chispa no ar
se o tempo for de guerrae você for guerrear
ou em pétala de rosase o tempo for de amar.
Palavra é que nem veneno:mata, mas pode curar.
Dedique a ela o respeitoque se deve dedicar
às forças da natureza(o animal, a planta, o ar),
mesmo sabendo que a ditafoi feita pra se gastar,
que acaba uma, vem outrae voa no seu lugar.”
Ainda ontem, lá em casa,me sentei pra conversar
com as minhas duas meninase desatei a lembrar
de casos que a minha mãese esmerava em contarcom luz de lua nos olhosenquanto fazia o jantar.
Não era bem pelo assuntoque eu gostava de escutar
aquela voz que nasceucom o dom de se desdobrar
em vozes de outras erasque voltarão a pulsar
sempre que alguém, no vento,uma palavra jogar.
Gostava era de poderver a voz dela criar
mundos inteiros sem quasenem parar pra respirar
e ganhar corpo e fazerminha cabeça rodar,
como roda ainda hoje,quando, pra me sustentar,
eu jogo palavra no ventoe fico vendo ela voar
(jogo palavra no ventoe fico vendo ela voar)
Ricardo Aleixo
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